"Clube da Luta Para Meninas" decepciona, mas não graças a seu título brasileiro
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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

"Clube da Luta Para Meninas" decepciona, mas não graças a seu título brasileiro


Inicialmente pensado para ganhar a tradução “Passivonas”, Bottoms (no original) provocou uma revolta impressionante nas redes sociais quando noticiou-se que o Prime Video incluiria a produção em seu catálogo sob o título “Clube da Luta Para Meninas”. Independentemente da versão escolhida, a verdade é que a referência direta à obra-prima de David Fincher está presente no filme, mesmo que seja abandonada a partir do segundo ato (comentarei mais adiante).


A história segue duas adolescentes que, acreditam, são marginalizadas pelo fato de serem lésbicas “sem talento”. As aspas enfáticas são importantes, pois os gays talentosos gozam de imenso prestígio na escola que frequentam. Isso se torna um problema dos mais graves quando elas percebem que são ignoradas também pelas líderes de torcida pelas quais são secretamente apaixonadas. A solução encontrada? Criar uma espécie de clube da luta com a desculpa de proverem aulas de autodefesa contra os truculentos atletas do time de futebol americano da instituição, quando na verdade o único interesse da dupla é se aproximar de suas “crushes”.

Assim como Clube da Luta se tornou popular por quebrar paradigmas e oferecer uma visão complexa da sociedade a partir da dualidade entre o anarquista Tyler Durden de Brad Pitt e o apático personagem de Edward Norton, Bottoms tinha tudo para seguir o mesmo caminho, mas o roteiro escrito pela própria protagonista Rachel Sennott em parceria com a diretora Emma Seligman (dupla responsável pelo ótimo Shiva Baby, de 2020) fica só na promessa, já que por trás dessa embalagem de história subversiva se esconde uma comédia romântica adolescente das mais convencionais.

Continuando o raciocínio do primeiro parágrafo, a tal ideia do clube da luta não dura muito tempo, servindo apenas para uma montagem batidíssima de alguns minutos e sendo jogada para escanteio a fim de dar lugar a um aglomerado de clichês que, infelizmente, não se resumem à trama, expandindo-se também para a própria direção de Seligman. Além das montagens musicais típicas desse tipo de narrativa, incluindo uma ao som de Avril Lavigne, a diretora (tão promissora em Shiva Baby), se entrega a beijos apaixonados captados através do famigerado travelling circular, tomadas em câmera lenta e só demonstra algum grau de criatividade lá pelo terço final, quando uma imprevisível e violenta sequência surge do mais absoluto e obscuro nada.

Após despontar com o supracitado e inesperado sucesso do Cinema Independente, Rachel Sennott ainda viria brilhar no divertido Morte! Morte! Morte!, mas aqui fica limitada a um script que estranhamente não lhe dá material suficiente para explorar sua verve cômica, o que não deixa de ser irônico, já que estamos diante de uma comédia. Da mesma forma, Ayo Debiri, atualmente no ar com a série O Urso e que recentemente integrou o elenco de dubladores do bom As Tartarugas Ninja: Caos Mutante, fica presa a um papel que se apresenta como pouco mais do que um arquétipo, dependendo do improviso para arrancar (a fórceps) algumas gargalhadas.

Sendo assim, Clube da Luta Para Meninas não chega a ser ruim, mas para uma produção divulgada como original e subversiva, também não deixa de ser decepcionante. Aliás, não faz muito tempo que os cinemas exibiram Que Horas Eu Te Pego?, filme estrelado por Jennifer Lawrence e Matthew Broderick que recebeu elogios justamente pela honestidade, já que oferece praticamente a mesma estrutura, mas jamais sugere a pretensão de ser algo além de uma comédia romântica descompromissada.


Clube da Luta Para Meninas acaba de chegar ao catálogo do Prime Video


NOTA 5


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