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CRÍTICA | "O Que a Natureza Te Conta"

  • Foto do escritor: Guilherme Cândido
    Guilherme Cândido
  • há 18 minutos
  • 2 min de leitura

*Crítica publicada durante o Festival do Rio 2025


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Amenidades. Essa é a matéria-prima dos diálogos que movem não só a trama do novo longa-metragem de Hong Sang-soo, como também de sua vasta filmografia. Bebendo vorazmente do estilo da nouvelle vague, o sul-coreano se especializou na confecção de histórias que soam como meras conversas improvisadas entre seus (nem sempre profissionais) atores. E mesmo que ocasionalmente esses momentos sejam ensaiados, isso não mina a atmosfera agradabilíssima construída pelo cineasta.


Dong-hwa (Park Mi-so), um poeta tentando sobreviver sem o patrocínio do pai, um figurão jurídico, oferece à namorada Jun-hee (Kang So-yi) uma carona para a casa dos pais desta. Aproveitando o ensejo para finalmente conhecer os sogros, o sujeito se entrega a intermináveis papos principalmente com O-ryeong (Kwon Hae-hyo), patriarca da família da moça, que por sua vez se reconecta com a irmã enquanto aguarda a chegada da mãe.

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Produzido de forma artesanal, O Que a Natureza Diz Para Você tem todas as assinaturas visuais de seu diretor, como os zooms, os cortes secos e as longas tomadas gravadas com a câmera estática. Em grandes festivais como este do Rio de Janeiro, uma produção como essa cai como uma luva, proporcionando uma bem-vinda lufada de leveza e otimismo em meio à maratona cinéfila. Especialmente depois da sessão do pesado Se Eu Tivesse Pernas, Eu Te Chutaria.

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A própria ambientação corrobora esse clima ameno, com a casa de O-ryeong localizando-se num amplo espaço verde que ilustra o lado bucólico do interior da Coreia do Sul. Assim como ocorreu em obras anteriores de Sang-soo, espere por pausas introspectivas, com personagens contemplativos enquanto filosofam perante monumentos.

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A Música, presença forte em As Aventuras de uma Francesa na Coreia (exibido no Festival do Rio passado), agora retorna para endossar o relacionamento dos personagens, especificamente entre Jun-hee com seus familiares. Também há espaço para a tradicional conversa regada a makgeoli (o favorito da protagonista vivida por Isabelle Huppert no longa supracitado), embora dessa vez sirva de combustível para um raro momento em que as tensões se elevam (a discussão durante o jantar).

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Mais uma vez encarnando um homem gentil  e compreensivo, Kwon Hae-hyo mostra fluência na linguagem de Sang-Soo, justificando a duradoura parceria entre os dois. Note como o experiente ator tira de letra não só as mudanças de assunto, como também é capaz de oferecer opiniões com firmeza sem soar grosseiro. Da mesma forma, ele protagoniza uma boa piada envolvendo o carro de Dong-hwa que, como não poderia deixar de ser, vira o centro de uma das conversas.

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Por se tratar de uma narrativa essencialmente desenvolvida através de diálogos superficiais e até banais (a barba de Dong-hwa é tão mencionada que chega a parecer objeto de fascínio), Geu Jayeoni Nege Mworago hani (no título original) pode ser de difícil consumo para espectadores menos versados no Cinema produzido fora de Hollywood e seu ritmo diametralmente oposto. Por outro lado, são pouco mais de 100 minutos ao lado de personagens que jamais deixam de soar como pessoas de carne e osso, com sentimentos, preferências e pensamentos únicos, protagonizando situações com as quais todos nós já nos deparamos.


Tudo isso captado praticamente sem intervenções, reforçando a vocação de Hong Sang-soo para o cinema naturalista.


NOTA 7,5

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