Festival Filmelier no Cinema: #5 - Tesla: O Homem Elétrico
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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

Festival Filmelier no Cinema: #5 - Tesla: O Homem Elétrico



Nikola Tesla foi um engenheiro elétrico e inventor croata que ficou famoso por suas contribuições no campo da Ciência e da Tecnologia, especialmente por ter desenvolvido o sistema de energia elétrica distribuída através de corrente alternada e que é utilizada até hoje. Também registrou mais de 300 patentes, incluindo inovações notáveis como a Bobina de Tesla e a lâmpada fluorescente. Entretanto, sua vida ficaria marcada para sempre por conta da rivalidade histórica com o empresário estadunidense e também inventor Thomas Edison, criador da lâmpada incandescente e um dos pioneiros da eletrificação em massa.


Enquanto Tesla defendia o uso da corrente alternada (AC), Edison apoiava a corrente contínua (DC), uma discordância que gerou a famosa “Batalha das Correntes”, uma disputa que girava em torno da melhor forma de distribuir eletricidade para o público e que duraria anos, envolvendo uma série de ações competitivas, incluindo tentativas de sabotagem e até mesmo propagandas negativas (Edison chegou a eletrocutar animais publicamente com o intuito de demonstrar os perigos da corrente alternada). Ao longo dos anos, vários filmes procuraram retratar esse período, mas poucos realmente conseguiram se debruçar com inquestionável eficiência sobre a vida pessoal de Tesla e sua relação com Edison. Infelizmente, Tesla: O Homem Elétrico não será a obra que mudará essa situação.

Desde o início, o diretor/roteirista Michael Almereyda (do ótimo Marjorie Prime) investe em explicações que parecem voltadas a crianças, recorrendo a analogias bobas como aquela sobre acariciar as costas de um gato e que é utilizada para explicar energia estática retornando em vários momentos da projeção como se o realizador estivesse orgulhoso por conseguir aproveitá-la para fazer uma analogia entre mundo e natureza. O roteiro também se esbalda em explicações sobre as correntes, impressionando pela dimensão do arsenal de comparações possuído por Almereyda.

Se como roteirista, o estadunidense não tem muito sucesso, como diretor ele se sai ligeiramente melhor, alcançando um bom resultado, por exemplo, na brincadeira que faz ao exibir Tesla utilizando uma vela para iluminar uma sala pouco antes de todas as luzes se acenderem, como se um blecaute fosse a causa para a perda momentânea de energia elétrica ao invés de sugerir que o local fosse primitivo o bastante para não ter acesso à eletricidade. Pena que no restante do tempo, o cineasta também incorra em equívocos, a despeito de seu trabalho à frente do roteiro.

Assim, somos bombardeados com toda a sorte de firulas estilísticas como quebras da quarta parede e anacronismos que buscam uma atmosfera de vanguarda, quando na verdade só soam como tentativas patéticas de exalar estilo. Já a ideia de não disfarçar o raso orçamento, aproveitando cenários deliberadamente artificiais, revela-se um meio curioso de manter no mínimo os gastos com o departamento de cenografia. Se está longe de sugerir a subversão que a produção se gaba em tentar emular, ao menos dá personalidade à obra. Para o bem, mas também para o mal, como na bizarra sequência em que o Tesla de Ethan Hawke saca um microfone e começa a cantar “Everybody Wants to Rule the World” do duo britânico Tears For Fears diretamente para a câmera como se estivesse num karaokê.

Hawke segue a mesma cartilha que guiou suas performances anteriores, adotando uma voz grave para pronunciar falas quase murmuradas, lembrando os grunhidos e rosnados que marcaram sua participação em O Homem do Norte, ao passo que a Anna de Eve Hewson (do fraco Robin Hood: A Origem) parece comunicar-se apenas através de perguntas, servindo como uma entrevistadora de Nikola Tesla em tempo integral. Hewson também faz as vezes de narradora, quebrando o já problemático ritmo da história para fazer intervenções como se estivesse num documentário, mas em interlúdios artificiais e que provocarão estranheza no espectador casual. Isso porque, em 1884, Anna surge abrindo um MacBook Pro e Edison faz uma pausa para checar seu smartphone enquanto a narração de Hewson tenta estabelecer conexões com a atualidade.

Ironicamente, nem desse jeito Michael Almereyda consegue transformar o lendário inventor croata em um ser humano de verdade, esbarrando na sua notória introspecção ao contar sua trajetória. Ao invés de especular, Almereyda tenta trazer algum traço de originalidade ao arranhar a superfície do homem por trás da genialidade. Sim, há alguns momentos instigantes que sugerem uma complexidade maior, com Tesla limpando talheres antes de comer ou observando seu assistente com olhar de admiração, mas o foco passa a ser a estilização, com o texto de Almereyda favorecendo floreios estéticos e narrativos na esperança de trazer algum frescor às rígidas convenções que costumam reger esse tipo de produção.

Que na maior parte do tempo, por mais que tente escapar, soa tão desinteressante e monótona quanto qualquer outra cinebiografia medíocre. O texto excessivamente formal exibe um caráter que acomoda o didatismo enervante da escrita de Almereyda, não hesitando em colocar Hewson para ler trechos extraídos de artigos publicados na internet e dando a Tesla um ar de produção educativa que certamente vai na contramão das intenções do roteirista/produtor/diretor.

O que é uma pena, pois material não faltou para Almereyda não apenas abordar o legado da "Batalha das Correntes" como também tecer comentários sobre trabalhos periféricos de Edison e Tesla. Afinal, um Cinetoscópio pode ser visto rapidamente numa cena e valeria uma atenção especial, já que os estadunidenses não atribuem a invenção do Cinema aos Irmãos Lumière. Mas Almereyda, enamorado com seus próprios recursos, prefere ater-se a um conceito cuja natureza esdrúxula em nenhum momento deixa de soar questionável.

Para aqueles estudantes que estiverem buscando conteúdo para embasar uma pesquisa sobre Tesla, talvez seja melhor acatar a sugestão de Anna e ir diretamente ao Google ao invés de passar pouco mais de 90 minutos acompanhando uma obra que jamais deixa a superfície.


NOTA 2,5


* Filme visto durante o Festival Filmelier no Cinema

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