Festival Filmelier no Cinema: #8 - Infiltrada: Golpe de Vingança
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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

Festival Filmelier no Cinema: #8 - Infiltrada: Golpe de Vingança


Primeira mulher nativa americana a se tornar campeã mundial de boxe, Kali Reis trilha em Infiltrada: Golpe de Vingança, o mesmo caminho de atletas famosas como Gina Carano, Ronda Rousey e uma dezena de artistas marciais ao fazer a transição do esporte para o Cinema. Além de protagonizar o primeiro trabalho do diretor Josef Kubota Wladyka fora da TV, Reis também é autora da história que gerou o roteiro, também assinado por Wladyka e que acompanha Kaylee, uma boxeadora cuja vida muda drasticamente depois que a irmã caçula é sequestrada e a polícia desiste de rastrear o seu paradeiro. Ao ficar sabendo da atuação de uma quadrilha especializada em tráfico humano em sua cidade, Kaylee resolve investigar por conta própria, infiltrando-se no esquema liderado por Bobby (Daniel Henshall, de A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell) e seu pai Willie (Kevin Dunn, de King Richard: Criando Campeãs).

O cineasta Josef Kubota Wladyka logo de cara estabelece uma atmosfera taciturna que se beneficia não apenas da trilha sonora pesada de Nathan Halpern (Emily, a Criminosa) como também da fotografia crua de Ross Giardina (Deserto do Ouro) para emular o estilo de cineastas como Michael Mann e Darren Aronofsky, este último desempenhando a função de produtor executivo. O maior acerto de Wladyka, no entanto, é jamais perder de vista o foco em Kaylee, que é vivida com impressionante presença de cena por Kali Reis. Carismática e intensa, mal parece que a estadunidense de ascendência cabo-verdiana está atuando pela primeira vez e até nos momentos em que fiqua evidente um certo grau de inexpressividade, o filme trata de aproveitá-lo como uma característica da personalidade retraída de Kaylee.

Embora desenvolvido como um thriller de vingança nos moldes de um Busca Implacável da vida, Reis deixa claro que não é Liam Neeson, portanto, não há espaço para lutas elaboradas ou uma atenção especial para a ação. As intenções de Wladyka e Reis passam pela ideia de contar uma história avessa à fantasia, sem a preocupação de agradar o espectador ou apresentar um desenvolvimento que fuja da proposta de manter o realismo como diretriz.

Com isso, somos apresentados à uma protagonista verossímil, pois por mais motivada que possa estar, ela não é Bryan Mills e muito menos John Wick, o que a leva a ter dificuldades, por exemplo, na hora de interrogar alguém, já que suas ameaças possuem limites muito claros (ela não consegue esconder sua incapacidade de ferir um inocente). Torturar alguém pode parecer simples na teoria, mas a prática é completamente diferente e isso fica evidente quando Kaylee exagera na técnica de afogamento simulado e colhe resultados inesperados.

A ação, por incrível que pareça, não chega a decepcionar, mas o espectador precisa estar ciente de que a produção não mede esforços para permanecer fiel ao perfil humano de sua protagonista, custe o que custar. Ainda que conte com sua parcela de tiros e trocas de socos, Catch The Fair One (no original), opta pela tensão como forma de manter a atenção da audiência, com resultados que vão além do aceitável, especialmente nas sequências que se passam no interior de uma casa e num parque de trens (onde a fotografia constrói um plano evocativo com a protagonista iluminada no centro do quadro enquanto aborda vítimas mergulhadas na escuridão).

Politicamente consciente, o filme dialoga com problemas infelizmente cotidianos, como violência doméstica e as alarmantes estatísticas que envolvem a população nativo americana que compõe mais de 40% das vítimas de tráfico sexual nos Estados Unidos. Preocupação semelhante com os direitos dos nativos também foi sentido em Terra Selvagem, mas a forma como Infiltrada: Golpe de Vingança tende a ressoar mais eloquentemente é na relação de Kaylee com o luto, que ganha destaque num desconfortável embate entre a ex-boxeadora e sua mãe (Kimberly Guerrero, também nativo americana).

Pecando num final que tenta fazer jus à construção realista e humana do arco e da missão de Kaylee, mas que acaba soando apenas abrupto ao deixar de oferecer uma conclusão mais contundente (os minutos finais ainda incluem um fraco elo com a sequência de abertura), Infiltrada: Golpe de Vingança representa uma estreia notável por parte de Kali Reis, não por acaso, ela já assinou contrato para estrelar a próxima temporada da série True Detective ao lado de Jodie Foster. Que seja apenas o início de uma promissora carreira.


NOTA 7,5


* Filme visto durante o Festival Filmelier no Cinema

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