Festival Filmelier no Cinema: #9 - Querida Zoe
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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

Festival Filmelier no Cinema: #9 - Querida Zoe


Mais conhecida como a intempestiva Max da série Stranger Things, fenômeno de audiência na Netflix, a jovem Sadie Sink vem galgando posições rapidamente em Hollywood. Em 2019, por exemplo, ela se destacou na trilogia adolescente Rua do Medo, outro Original Netflix baseado nos livros de terror de R.L. Stine (autor de Goosebumps), mas foi com A Baleia, do ano passado, que ela despertou um novo olhar da indústria graças à sua interpretação da cruel filha do personagem que rendeu o Oscar de Melhor Ator a Brendan Fraser. Nesse mesmo ano, Sink voltou a apostar em seu apelo junto aos adolescentes ao estrelar Querida Zoe, filme baseado no best-seller Young Adult de Phillip Beard. Na trama (sensivelmente modificada em relação ao romance original), Sink vive Tess DeNunzio, uma jovem de 16 anos atormentada pelo falecimento de Zoe, sua irmã caçula. Apesar de todos à sua volta tentarem seguir em frente, ela permanece paralisada já que assume a culpa pelo ocorrido.

Como em quase toda adaptação voltada para o público “jovem adulto”, Querida Zoe apresenta uma protagonista facilmente identificável com seu público-alvo, adicionando o divórcio dos pais, a vida escolar e os problemas com o padrasto à galeria de problemas enfrentados. O único diferencial é mesmo a forma como Tess leva sua vida, sendo incapaz de esconder o imenso peso que carrega por acreditar que a irmã morreu por sua causa e fornecendo o material necessário para a trama se desenvolver a partir disso.

Infelizmente, o roteiro assinado por Melisssa Martin e Marc Lhormer enxerga a protagonista como o mesmo estereótipo visto em dúzias de filmes desse gênero. Além de conceber Tess como um amontoado de clichês (conte o número de vezes em que ela diz odiar algo), ao negar um vislumbre da menina antes da tragédia, a dupla de roteiristas impede o espectador de ter uma noção mais clara da mudança de personalidade sofrida por ela, sabotando a performance carismática e repleta de intensidade oferecida por Sadie Sink.

O cenário fica ainda pior quando constatamos a precariedade da direção de Gren Wells (A Estrada Interior) já nos primeiros minutos da história, quando após a redundante narração em off, há uma transição absoluta (sem imagem ou som) típica daquelas vistas em séries de TV que acontecem antes da abertura ou nos momentos que antecedem o intervalo comercial. Para piorar, Wells investe em recursos datados e que se repetem ao longo da narrativa, como o efeito que ilustra o desconforto de Tess ao caminhar pelos corredores da escola ou a sobreposição que reflete a passagem do tempo.

Também há espaço de sobra para momentos embaraçosos, como na insistência de Wells em investir em planos fechados ao mostrar alguém chorando ou na inacreditável sequência em que a diretora acaba se complicando ao dirigir uma simples conversa entre Tess e sua mãe, embananando-se no que seria uma mera combinação de planos e contra-planos, ao passar tempo demais num plano-conjunto com a câmera focando na reação da mãe, sendo que Tess está de costas para a câmera, sacrificando a naturalidade com um defeito que costuma aparecer em projetos universitários e não num longa-metragem desse porte.

Já o elenco até se sai bem, com destaque para a atuação afetuosa de Theo Rossi, que exala calor humano em cada cena que aparece. Até o novato Kweku Collins é hábil ao fazer de Jimmy uma figura simpática, apesar do óbvio arquétipo do namorado cool e do visual Jack Sparrow. E se Justin Bartha (o eterno Doug da trilogia Se Beber, Não Case) faz pouco mais do que uma participação especial, Jessica Capshaw (da interminável série Grey's Anatomy) é vítima do excesso de melodrama, envolvendo-se em conflitos nos quais sente-se a mão pesada da direção.

Falando em conflito, é impressionante como a produção foge de consequências maiores, como se temesse ofuscar o drama central. Há até mesmo uma tentativa de suicídio claramente concebida para gerar um aprofundamento entre dois personagens, mas que acaba dando em nada, como todas as subtramas que orbitam Tess, já que o roteiro apressa-se para seguir ao próximo tópico.

Desesperado para arrancar lágrimas do espectador, Querida Zoe esboça o que poderia ser um estudo sensível do luto, apresentando um discurso louvável, mesmo que se sinta na obrigação de mais uma vez utilizar a narração para mastigar a mensagem para o espectador. No final, o que ganhamos é uma história que ora exagera no melodrama, ora evita explorar conflitos.


NOTA 4

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