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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

Filme de ação 'raiz', "Alerta Máximo" cumpre o que promete


Após, aparentemente, saciar seu desejo por filmes-catástrofe, numa fase que gerou o tolo Tempestade: Planeta em Fúria, mas também surpreendeu com o bom Destruição Final: O Último Refúgio, Gerard Butler parece determinado a retomar sua faceta como astro de ação. Quando escrevi sobre Caça Implacável, produção que estrelou ano passado, lembrei que o ator escocês, cuja carreira decolou com o sucesso de 300, optou por ignorar sua óbvia vocação para os filmes de ação, para emprestar sua imagem a comédias românticas que alternavam entre a carência de ambição e a ausência de qualidade. Numa época em que o vácuo deixado por Stallone e Schwarzenegger, reis do Cinema de Ação, gerou uma série de candidatos ao trono (Jason Statham e The Rock são os únicos remanescentes), mas que nunca chegaram ao mesmo patamar de popularidade, Butler se apresentava como um meio-termo entre o herói anabolizado tão popular no século passado e o protagonista mais realista, demanda descoberta pela trilogia Bourne de Matt Damon e que redefiniu a indústria no início do milênio. Mesmo que tardiamente, ele volta suas atenções para o gênero que tanto esnobou nos últimos anos e pelo qual foi duramente penalizado, à medida em que os estúdios desistiam de apostar em sua figura para liderar projetos voltados aos cinemas.

Emendando seu terceiro longa-metragem de ação consecutivo, seguindo o mediano Fogo Cruzado e o já citado Caça Implacável, o eterno Rei Leônidas dessa vez interpreta Brodie Torrance, um experiente piloto de aviação comercial encarregado da ingrata tarefa de comandar um voo de Singapura aos Estados Unidos em plena noite de Ano Novo. Prestes a decolar, porém, duas situações adversas se apresentam a ele: a primeira diz respeito ao tempo, com diversos alertas apontando para os perigos de uma tempestade e sendo sumariamente ignorados por um encarregado da companhia aérea, mesmo diante dos apelos estranhamente lânguidos do nosso herói. Com poucos passageiros, um acaba se destacando e surgindo como a outra adversidade: Louis Gaspare (Mike Colter, ex-Luke Cage), prisioneiro condenado por homicídio que está sendo escoltado por um policial.

É claro que num filme originalmente intitulado Plane (“avião” em inglês), todos os temores irão se concretizar, a começar pela tormenta, que se prova implacável e provoca uma pane elétrica na aeronave, exigindo de Brodie um pouso de emergência num local desconhecido. E como estamos diante de uma produção estrelada por Gerard Butler, também é fácil antecipar que o tal lugar será hostil, mas não em função da natureza, como a filmografia do ator nos acostumou, e sim pela presença de uma milícia separatista fortemente armada. Caberá ao bravo piloto assegurar o bem-estar de seus passageiros e tripulantes enquanto todos aguardam um improvável resgate.

Com todas as peças dispostas no tabuleiro, Alerta Máximo promove um retorno às raízes dos filmes de ação da década de oitenta, com cidadãos norte-americanos lidando com ameaças estrangeiras num território banhado por uma fotografia amarelada. Faltou apenas colocar os inimigos falando espanhol, mas como a história se passa nas Filipinas, esse clichê nos é negado. Além da clássica convenção do “exército de um homem só”, agora misturada ao arquétipo do herói comum (aquele que sofre para superar seus oponentes), somos presenteados com a boa e velha dinâmica dos opostos que acabam trabalhando juntos, com Torrance e Gaspare unindo forças em prol de um objetivo em comum.

Neste ponto, a câmera inquieta de Jean François Richet (Herança de Sangue, com Mel Gibson), especialista na ação visceral, demora a embalar, como fica claro no primeiro combate corporal da trama: Butler se engalfinha com um capanga e entre golpes, quedas e esquivas, falta energia à sequência, pois Richet passa tempo demais tentando justificar a imperícia de Torrance, pesando a mão num combate de ritmo claudicante. Felizmente, Richet acerta o compasso e se beneficia de uma montagem ágil, eficaz também ao provocar uma sensação de urgência que mais do que compensa seus tropeços iniciais. A tensão construída sem muita sutileza mantém a atmosfera sob controle, impedindo o espectador de se concentrar nas fragilidades do texto (fãs de aviação deverão se preparar).

O orçamento mais enxuto ('míseros' 50 milhões de dólares), sentido nas sequências aéreas, impossibilita Alerta Máximo de engrossar a contagem de mortes de Butler, já que se dispõe a colocar cerca de uma dezena de milicianos no encalço de Torrance e Gaspare, mas reserva uma parcela considerável para o ato final, quando a entrada de um grupo paramilitar e a fúria revanchista dos inimigos filipinos entram em rota de colisão da forma mais explosiva (e arcaica) possível, com direito a jipes e bazucas! Butler e Colter, aliás, passam longe de serem a dupla dos sonhos, mas dão conta do recado, principalmente no que se refere à ação. Enquanto isso, Tony Goldwyn, mais acostumado ao papel de vilão (os menos jovens lembrarão dele em Ghost: Do Outro Lado da Vida), parece divertir-se como o sujeito encarregado de consertar os erros da companhia aérea à base de insultos e palavrões.

Nada como uma ação à moda antiga para abrilhantar uma temporada tradicionalmente marcada pelos poucos filmes e atualmente dominada por um certo Avatar: O Caminho da Água, representando uma alternativa mais rústica (ou vintage?) e concebida sob medida para aqueles mais interessados no tipo de escapismo simples e direto que costumava levar multidões aos cinemas há uns quarenta anos.


Com a iminente despedida de Liam Neeson dos filmes de ação, uma ironia do destino cai como uma luva para Gerard Butler, que de sucessor da realeza brucutu oitentista, tem tudo para ser o mais novo rei dos “filmes de ação baratos protagonizados por veteranos”. Pode não ser o trono que ele esperava assumir décadas atrás, mas não deixa de ser um belo assento para alguém nesta fase da carreira.


Alerta Máximo chega aos cinemas no dia 26 de Janeiro.


NOTA 6




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