Liam Neeson brilha, mas não salva "A Chamada" de resultado medíocre
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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

Liam Neeson brilha, mas não salva "A Chamada" de resultado medíocre


Depois de um avião (Sem Escalas) e um trem (O Passageiro), agora é a vez de Liam Neeson passar praticamente dentro de um carro. Isso porque Matt Turner, seu personagem, justamente no dia em que fica encarregado de levar os filhos para a escola, recebe uma ligação anônima de alguém dizendo que há uma bomba sob o seu assento e que será detonada caso ele se levante. Talvez seja melhor deixar para você descobrir os motivos quando for assistir ao filme, uma mistura pouco inventiva de Velocidade Máxima e Por um Fio, desenrolando-se quase inteiramente no interior de um veículo enquanto o vilão dá instruções ao protagonista pelo celular.


Embora esteja em mais um filme de ação, sua especialidade desde que chocou o mundo ao se reinventar em 2008 com Busca Implacável, Liam Neeson deixa de lado o tipo durão e imbatível que normalmente encarna, para fazer de Matt um homem vulnerável e aterrorizado. Essa novidade, no entanto, não é gratuita, já que o protagonista carrega uma enorme culpa por negligenciar a família em detrimento do trabalho. Talentoso (note sua hesitação ao ser obrigado a ameaçar alguém) e versátil, o ator norte-irlandês é hábil ao mostrar Matt Turner sempre distraído quando está em casa, incapaz de dar atenção ou injetar energia em qualquer atividade compartilhada com os filhos e/ou com a esposa (cuja relação está se destroçando sem que perceba).

Falta de energia, aliás, é um problema compartilhado por Nimród Antal, cineasta húngaro que comandou o bom Predadores em 2010, mas que aqui oferece uma direção apenas burocrática, falhando em imprimir a urgência que a história necessita. Ao contrário da versão sul-coreana (Ligação Explosiva), este A Chamada não demonstra interesse em investir nos movimentos de câmera, principalmente dentro do carro, com Antal optando pelos protocolares closes nos atores invariavelmente assustados. A ausência de uma trilha sonora pulsante é outro ponto negativo, ainda mais se considerarmos a natureza genérica da composição de Harry Gregson-Williams (Megatubarão 2). A languidez da condução do filme prejudica por tabela as várias perseguições que se enfileiram, com a direção frouxa de Antal impedindo que a trama decole.

Não que o texto ajude, pois há alguns absurdos difíceis de relevar, como os instantes em que Matt consegue despistar a polícia e ter tranquilidade suficiente para conversar longamente com o vilão, mesmo com helicópteros e praticamente todo o contingente policial (incluindo atiradores de elite) em seu encalço. Por outro lado, os efeitos visuais são bons o bastante para não comprometerem a narrativa e a atenção aos detalhes confere um bem-vindo realismo mesmo que a serviço de um enredo pouco plausível, como na ilustração das consequências de uma explosão (os estilhaços).

E se Liam Neeson brilha intensamente, o mesmo não pode ser dito de seus colegas de elenco. Enquanto a veterana Embeth Davidtz (de obras célebres como Uma Noite Alucinante 3, Matilda e O Homem Bicentenário) limita-se aos arquétipos da esposa frustrada e posteriormente à donzela indefesa, Matthew Modine, o Dr. Brenner de Stranger Things, oferece uma performance fraquíssima, algo que pode ser constatado logo em sua primeira cena, numa chamada de vídeo absolutamente artificial que indica o tom robótico com que dirá suas falas no restante do filme. Nem Jack Champion, que despontou como o Spider de Avatar - O Caminho da Água, se salva, fazendo do filho de Matt uma representação unidimensional do famigerado adolescente rebelde.

Isso tudo, claro, pode ser creditado a Christopher Salmanpour (da série FBI: Os Mais Procurados), que só parece se preocupar com os personagens durante os primeiros quinze minutos, utilizando o tempo fora do carro para estabelecer de forma apressada todos os conflitos da narrativa, investindo em diálogos expositivos e clichês. Além disso, Salmanpour tenta compensar a estrutura formulaica apostando em eventos e reviravoltas que muitas vezes são facilmente previsíveis pelo espectador, deixando de utilizar artifícios narrativos (como o foreshadowing, por exemplo) que certamente o ajudariam. E quando resolve criar subterfúgios, inevitavelmente acaba recaindo em convenções (o protesto).

O que sobra em A Chamada é um thriller apenas mediano que Liam Neeson carrega nas costas e impede seu fracasso absoluto, algo que já vem acontecendo com alarmante frequência nesta fase de sua carreira.


NOTA 5


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