Projeto James Bond #22: 007 Quantum of Solace (2008)
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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

Projeto James Bond #22: 007 Quantum of Solace (2008)

007 Quantum of Solace

(Quantum of Solace, 2008)

Famosa pelo fato de investir em narrativas que funcionam de forma independente, isto é, que apresentam um encerramento antes de partir para uma aventura completamente diferente, a franquia 007 continua o processo de reformulação iniciado por Cassino Royale e quebra um novo paradigma ao fazer de Quantum of Solace uma continuação direta, com uma história que tem início a partir dos últimos instantes da produção anterior. Algo com que a franquia já havia flertado em 007 Os Diamantes São Eternos, mas que aqui ganha corpo. A ideia dos produtores é fazer com que a Era Daniel Craig cubra um arco maior, composto por histórias ligadas umas às outras ao darem uma sensação de “série” como há muito tempo não se via na franquia. Sendo assim, acompanhamos James Bond ainda mais agressivo e brutal do que no filme anterior, buscando os culpados pela morte de Vesper Lynd, o que o coloca em rota de colisão com a misteriosa organização Quantum.

Filme mais curto da franquia (106 minutos) e o mais criticado pelos fãs da fase com Daniel Craig, parte do insucesso de Quantum of Solace como narrativa (pois a bilheteria foi um triunfo e tanto), porém, reside em justificativas que vão além do filme e passam por questões de bastidores. Afinal, nos três meses entre 2007 e 2008, período que envolveu a produção do filme, Hollywood passou por um momento conturbado quando o Sindicato dos Roteiristas resolveu fazer uma greve reivindicando uma maior valorização na indústria. Isso afetou inúmeras produções e até premiações (a cerimônia de entrega do Globo de Ouro foi cancelada, com os vencedores sendo anunciados numa coletiva de imprensa por membros da organização). Quantum of Solace, um blockbuster de 200 milhões de dólares foi uma dessas produções e como já estava prestes a iniciar o período de gravações, simplesmente não havia a opção de esperar o fim da greve.

A produtora Barbara Broccoli chegou a relembrar numa entrevista que quando as filmagens começaram, o roteiro sequer estava pronto e quando finalmente foi entregue, obrigou o diretor Marc Forster e até mesmo Daniel Craig a reescreverem sequências inteiras em pleno set de filmagens, já que os roteiristas contratados aderiram à greve e não havia outro profissional disponível para efetuar mudanças no texto. Craig, inclusive, até se desculpou pelo material, afirmando numa declaração posterior que não é um grande escritor.

Essa sensação de improviso, infelizmente, fica latente na tela, sendo transmitida ao espectador das piores formas possíveis. Os diálogos, muitas vezes artificiais, seja pelo exagero na disposição de informações ou pela falta de refino, eram o menor dos problemas, pois o que todos tentaram esconder a todo custa era o fato de que Quantum of Solace não possuía uma história sólida e a solução encontrada foi emendar sequências de ação com o intuito de impedir o espectador de pensar no que estava vendo.

Assim, o filme se desenvolve como um aglomerado de perseguições que são coladas entre pequenos momentos de respiro, que por sua vez são meros preparatórios para lançar Bond em mais um set-piece. Ao menos a produção não economiza em variações, investindo em sequências no mar, na terra, no ar e até a pé, mantendo a trama sempre em movimento com o claro objetivo de impedir o espectador de notar as imperfeições do script.

O problema é que ação em abundância, embora jamais chegue a entediar, não é garantia de entretenimento, pois o cineasta alemão Marc Forster, de notória versatilidade, escancara suas dificuldades com o gênero, determinado a bater o recorde de Michael Bay em relação a quantidade de cortes, picotando algumas lutas e correrias até torná-las incompreensíveis. Até o posicionamento da câmera se revela equivocado, como na sequência em que Bond persegue um inimigo pelos telhados de Siena, pulando entre sacadas e oferecendo dificuldades para Forster captar o que está acontecendo. Para efeito de comparação, a franquia Bourne (tão influente no recomeço de 007), tirava de letra exatamente o mesmo tipo de ação, com O Ultimato Bourne destacando-se justamente nessas passagens. Há bons momentos, no entanto, como uma luta envolvendo inimigos pendurados e a sequência pré-créditos. Os créditos, aliás, são mais uma vez embalados por um rock, mesmo que “Another Way To Die” seja mais suave do que a ótima “You Know My Name”.

Já a trama é incrivelmente rasa, um fiapo de narrativa que lança Bond por várias locações apenas para jogá-lo no meio de perseguições. Os tropos clássicos da série vão ressurgindo aos poucos, mas colocados a serviço de um script com o pior nível de diálogos desde a fase protagonizada por Roger Moore. Ora agredindo nossos ouvidos com pérolas saídas de livros de autoajuda, ora trocando informações da forma mais expositiva possível, Neal Purvis, Robert Wade e Paul Haggis oferecem um trabalho muito abaixo daquele visto em 007 Cassino Royale.

Daniel Craig, então, pouco pode fazer a não ser seguir os rumos naturais apontados pelo final do filme anterior, sendo bem-sucedido ao transmitir o turbilhão emocional vivido por Bond através de atitudes violentas e repletas de cinismo. Não por acaso, o agente é incapaz de evitar dar cabo de bandidos que seriam valiosos como testemunhas, para desespero de M, que tem de justificar aos seus superiores o descontrole do agente. É positivo, no entanto, o desenvolvimento de sua relação com Bond, que desde o filme passado é centrado numa confiança nem sempre mútua e que aqui é testada de verdade.

Trazendo Olga Kurylenko (destaque de Hitman – Assassino 47) como uma bond girl atormentada por um passado de brutalidades, esta nova fase da franquia traça um futuro pouco convidativo às mulheres que cruzam o caminho de James Bond. Se a Camille de Kurylenko ao menos ganha a oportunidade de se vingar, a Fields de Gemma Arterton, descartável, é sabotada pelo roteiro ao aparecer em poucas cenas antes de sumir e retornar apenas no final como uma trágica referência a 007 Contra Goldfinger. Fechando o elenco principal, o francês Mathieu Amalric até se esforça, mas não escapa da falta de inspiração do roteiro, que lhe entrega um vilão absolutamente desinteressante e com pouquíssimos recursos para enfrentar Bond, culminando num dos embates mais fracos de toda a série.

Tudo bem que a tarefa de suceder 007 Cassino Royale não era das mais fáceis, mas isso não desculpa o fato de 007 Quantum of Solace soar como um remendo de filme lançado às pressas para cumprir um cronograma irremediavelmente afetado pela crise de roteiristas, esta sim a maior vilã do filme.


NOTA 5,5


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