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Foto do escritorGuilherme Cândido

"Sem Remorso" é um filme de ação sem energia

Hoje em dia, Tom Clancy talvez seja mais famoso por uma gama de bem sucedidos jogos de videogame, baseados em suas ideias. Mas as histórias do escritor, morto em 2013, também renderam vários filmes e séries, como Jack Ryan, sua criação mais adaptada, ocupando um espaço especial na cultura popular. Dessa vez sem Ryan, a mais nova adaptação de uma obra de Clancy (o romance "Sem Remorso", de 1993), acompanha um jovem da marinha que busca vingança pelo assassinato de sua esposa.


Adaptações anteriores, como Caçada ao Outubro Vermelho, Jogos Patrióticos e o recente Jack Ryan - Operação Sombra, contavam histórias que giravam em torno de um militar e envolviam conspirações que costumavam ter agências governamentais como grandes vilãs. Sem Remorso não é diferente.


Com o talentoso Michael B. Jordan na pele do suboficial John Kelly, o filme imediatamente ganha peso dramático e personalidade, mas falha em lhe dar tempo de tela suficiente para demonstrar suas habilidades dramáticas, concentrando-se apenas em seu carisma e em seus esforços nas sequências de ação, chamariz da produção original da Amazon, o que não seria um problema.


Porém, passa a ser um problema, e imperdoável, quando Sem Remorso apresenta sequências curtas e medíocres, que além de sofrerem com a falta de impacto visual (a ausência de sangue e os golpes "clean") são gravadas sem o menor grau de visceralidade, algo fundamental em obras desse estilo. É nesse ponto que um coreógrafo como o da franquia John Wick poderia ter feito a diferença.


Além disso, os elementos estratégicos que costumam beneficiar filmes de ação sobre operações militares, como os planejamentos e a execução furtiva (tão bem empregados em jogos com o selo de Tom Clancy) são deixados de lado logo após a sequência de abertura, tão eficiente e promissora, em prol de tiroteios captados com frieza pelo cineasta Stefano Solimma e montados sem energia.


Para piorar, a previsibilidade vai além do uso excessivo de clichês (o militar sem nada a perder, os discursos que são gravados e, claro, a datada vilanização dos russos), surgindo também na pele de estereótipos, como a comandante fria que nutre afeição pelo protagonista devastado e disposto a se sacrificar, além do vilão infiltrado que de tão mal desenvolvido, é descoberto pelo espectador assim que aparece em cena pela primeira vez, dilacerando os efeitos que poderiam ser provocados com determinada revelação sobre um personagem supostamente antagônico.


Encerrando a história com a inevitável tentação de preparar o terreno para uma continuação, Sem Remorso é mais uma daquelas produções que ganham atenção especial em virtude da ausência de superproduções, adiadas na pandemia. Não se engane, pois assim como "Aqueles que me Desejam a Morte", "A Mulher na Janela" (da rival Netflix) e tantos outros, trata-se de uma produção de segunda linha disfarçada.


NOTA 4,5

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