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CRÍTICA | "Morra, Amor"

  • Foto do escritor: Guilherme Cândido
    Guilherme Cândido
  • há 1 dia
  • 2 min de leitura

*Crítica publicada durante o Festival do Rio 2025


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Que Jennifer Lawrence nasceu para interpretar personagens mentalmente desajustadas, todos sabemos, principalmente depois de vê-la em O Lado Bom da Vida (2015), pelo qual merecidamente conquistou o Oscar de Melhor Atriz. Mas o que ela faz em Morra, Amor, provavelmente surpreenderá até aqueles que já esperam por loucuras.


Sob a batuta de Lynne Ramsay, diretora do assombroso Precisamos Falar Sobre o Kevin (2011), Lawrence interpreta Grace, mulher que acaba de ter um bebê e se muda com o marido, Jackson (Robert Pattinson), para um típico casarão interiorano. O lugar, coincidentemente onde o rapaz nasceu e foi criado, guarda segredos sombrios, como o fato de o tio dele ter cometido suicídio justamente num dos aposentos do lar onde o casal planeja ver o filho crescer.


Entretanto, Morra, Amor, é menos sobre a relação marido e mulher e mais sobre Grace, que vê seu estado psicológico deteriorar à medida que sucumbe à depressão pós-parto.

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Com tintas psicossexuais, o filme é o veículo perfeito para Lynne Ramsay potencializar o trabalho performático de Lawrence, funcionando quase como uma continuação de Mãe!, que a atriz protagonizou ao lado de Javier Bardem em 2017. Se no longa de Darren Aronofsky, o mundo enlouquecia, aqui é Grace quem acaba surtando. ou melhor, o mundo de Grace.

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E Jennifer Lawrence não mede esforços para retratar a instabilidade crescente da mulher, tornando-se uma catástrofe ambulante do tipo que atrai nossa curiosidade mórbida. É mérito total da intérprete que o público sinta empatia e não revolta perante as ações extremas de Grace. Nos compadecemos da situação graças aos anseios frustrados da personagem, transmitidos por Lawrence através de uma expressividade que está não só no olhar, mas também na linguagem corporal.

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À medida que suas atitudes se tornam cada vez mais difíceis de prever, o roteiro também assinado por Ramsay ao lado de Enda Walsh (Pequenas Coisas Como Essas) e Alice Birch (Lady Macbeth), explora todos os possíveis gatilhos para seu surto, criando situações em que a pressão da maternidade torna-se quase palpável, como na cena em que Grace desiste de fazer um papel socialmente aceitável diante da funcionária de uma loja de conveniência que insiste em puxar conversa sobre o bebê. Aliás, a repetição de momentos como esse não se tornar cansativo é uma proeza justamente por colocar o espectador na pele de Grace.

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Nesse ponto, o design de som é fundamental, adotando a perspectiva da moça para nos fazer sentir sua ansiedade crescente. Seja pelos ruídos de uma mosca ou pelos latidos incessantes do cachorro adotado por Jackson, tudo parece feito sob medida para perturbar sua paz.

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Falando em Jackson, como é bom ver a carreira pós-Crepúsculo de Robert Pattinson ser definida por papéis cada vez mais diferentes entre si. Aqui, seu personagem é diretamente responsável pela derrocada de Grace, sendo incapaz de dar o apoio que a esposa precisa. Desculpando-se frequentemente sem jamais cumprir as promessas de mudança, Jackson é um homem comum por fora e patético por dentro. Novamente, é seu intérprete que merece elogios por impedi-lo de soar repulsivo.


Um drama comovente disfarçado de thriller psicossexual, Morra, Amor é mais uma obra contundente na carreira admirável de Lynne Ramsey.


NOTA 7,5

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