CRÍTICA | “Sonhos de Trem”
- Guilherme Cândido
- há 4 dias
- 3 min de leitura

*Filme visto durante o Festival do Rio 2025
Chegando direto de Sundance, Train Dreams, no original, é o novo filme que o diretor Clint Bentley escreveu ao lado de Greg Kwedar, mesma dupla do bom Sing Sing, indicado esse ano ao Oscar. Apesar de ter sido legendado como Sonhos de Trem (tal qual o material de origem), a produção é intitulada Nos Trilhos do Destino de acordo com o IMDb, então para cravar o correto é mais prudente aguardar o posicionamento da Netflix, plataforma onde o longa será lançado no mês que vem.

Bentley bebe muito da fonte de Terrence Malick (Além da Linha Vermelha, A Árvore da Vida), proporcionando à narrativa uma conexão tão forte com a natureza que às vezes os personagens soam como meros adornos da própria história, o que não se distancia da proposta filosófica do roteiro, adaptado de um romance escrito pelo alemão Denis Johnson.

Joel Edgerton (visto recentemente na série Matéria Escura) empresta sua aura de homem comum a Robert Grainier, que durante a expansão ferroviária nos Estados Unidos, ganhou a vida fazendo trabalhos braçais na região que hoje é chamada de Washington. Acompanhamos toda sua trajetória, desde a infância difícil como órfão, passando pela descoberta do amor de sua vida, Gladys (Felicity Jones), até ser soterrado pelas inevitáveis tragédias da vida. Tudo com o bônus da narração de Will Patton (o Garrett da série Yellowstone), que faz mais do que ditar o tom lírico da obra, desvendando camadas de forma que os tronchos personagens jamais conseguiriam fazer.

A primeira metade da projeção flui maravilhosamente, equilibrando a solenidade do texto com situações genuinamente divertidas. Há uma sequência envolvendo um suposto cristão que começa como se fosse uma cena deletada de Forrest Gump (1994) e termina no estilo dos Irmãos Coen (O Grande Lebowski, Matadores de Velhinhas). Da mesma forma, William H. Macy, indicado ao Oscar por Fargo (1996) - dos Coen, veja só - nunca esteve tão vivaz, a ponto de desejarmos que a mera participação especial que faz, dure mais. Seu personagem segue a cartilha anterior, combinando seriedade e bom humor.

Da segunda metade em diante, especificamente a partir de um acontecimento-chave, o filme cai de rendimento, ficando à beira do precipício, mas agarrado à atuação potente de Edgerton, um intérprete que merece muito mais reconhecimento do que possui. É ele quem preenche os longos e excessivos silêncios que passam a aparecer com mais frequência à medida que nos aproximamos do final.

Como vem acontecendo em praticamente todos os projetos no qual aparece - Foi assim em Inferno (2016), Rogue One: Uma História Star Wars (2016), Os Aeronautas (2019) e em O Brutalista (2024), só para citar alguns exemplos -, a britânica Felicity Jones representa um ponto negativo, seja pelo sotaque artificial ou pela presença apática. Ao menos possui alguma química com Edgerton. Já a trilha sonora de Bryce Dessner (O Contador 2) transmite melancolia sem resvalar no sentimentalismo barato, o que é um alívio.

A fotografia deslumbrante do brasileiro Adolpho Veloso (Tungstênio), concebendo obras de arte a partir da paisagem bucólica do efervescente norte estadunidense e apostando na expressividade do protagonista nos momentos de maior introspecção é o destaque técnico desta produção que encerrou o primeiro dia do Festival do Rio 2025.
NOTA 7






