Projeto James Bond #19: 007 O Mundo Não é o Bastante (1999)
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  • Foto do escritorGuilherme Cândido

Projeto James Bond #19: 007 O Mundo Não é o Bastante (1999)

Atualizado: 10 de abr. de 2023

007 O Mundo Não é o Bastante

(The World is Not Enough, 1999)


Quando se trata de 007, os produtores aprenderam que investir em aventuras independentes e com mudanças significativas em relação à fórmula da série (como os dois filmes estrelados por Timothy Dalton) não cai muito bem para o público e esta nova fase, agora protagonizada por Pierce Brosnan, comprova que uma história feita nos moldes daquelas com Sean Connery e Roger Moore são o bastante para dominar as bilheterias.


Ao contrário do que aconteceu na década de 80, quando a credibilidade do espião esteve seriamente debilitada e colocou o futuro da franquia em risco, não é necessário fazer uma reinvenção e os roteiristas Neal Purvis e Robert Wade, sabendo disso, constroem uma trama com a maior aproximação possível dos elementos indefectíveis da série, aqueles que já não saem da memória do espectador. Qualquer fã de James Bond ou espectador que já tenha visto dois ou três filmes da série, será capaz de identificar vários dos tropos característicos da consolidada “Fórmula Bond”, restaria saber se isso seria o suficiente para fazer desta terceira produção da Era Brosnan um filme memorável.

Claro que um bom filme de 007 passa necessariamente por boas escolhas de elenco e nesse ponto O Mundo Não é o Bastante sofre dolorosamente, a começar pela escalação de Robert Carlysle como o antagonista principal. Aproximá-lo de um supervilão dos quadrinhos, atribuindo-lhe absurdas características físicas (por ter um projétil alojado no cérebro, ele está condenado a uma morte lenta, mas também se torna incapaz de sentir dor e fica mais forte a cada dia), não redime o fato de Renard ser um adversário absolutamente genérico para James Bond. Não ajuda o detalhe de Carlysle adotar os mesmos maneirismos que caracterizaram suas performances anteriores, como em Ou Tudo ou Nada e Trainspotting.

Pior que isso só a indefensável ideia de trazer a modelo norte-americana Denise Richards como bond girl (uma cientista, inclusive). Sua total incapacidade de atuar claramente foi relevada em função de seu corpo, refletindo uma mentalidade que se esperaria de uma franquia como Transformers, famosa por dar papéis a top models inexpressivas, não uma marca bilionária com quase quarenta anos de existência e que acabou de acertar em cheio ao escolher Michelle Yeoh em 007 O Amanhã Nunca Morre. Não por acaso, Richards recebeu duas indicações ao Framboesa de Ouro, levando o ‘prêmio’ de Pior Atriz Coadjuvante e integra o seleto grupo das piores bond girls da série ao lado de Goodnight (007 Contra o Homem Com a Pistola de Ouro) e S. Sutton (007 Na Mira dos Assassinos).

Em compensação, Pierce Brosnan oferece sua melhor atuação como Bond, adotando um estilo mais agressivo que remete a Timothy Dalton, mas com uma segurança ainda maior, pena que ele só voltaria para mais um filme. Da mesma forma, a parisiense Sophie Marceau tem a oportunidade de brincar com as variações de Elektra King, que ganha contornos surpreendentes após uma reviravolta, embora as justificativas para suas atitudes durante o terceiro ato sejam fracas (uma Síndrome de Estocolmo é atirada como a causa para o assassinato de seu próprio pai).

Como ficou perceptível, Purvis e Wade, que passariam a escrever todos os filmes subsequentes, incluindo aqueles estrelados por Daniel Craig, demonstram uma alarmante falta de inspiração ao articular os beats habituais da franquia, fazendo de 007 O Mundo Não é o Bastante um filme que se segura em espetaculares set pieces para não desmoronar, tamanha a fragilidade da narrativa e seus personagens, cabendo um único destaque para a participação final do veteraníssimo Desmond Llewelyn como Q, após 33 anos e 17 filmes, passando o bastão para o sempre divertido John Cleese.

Ponto forte da franquia desde os tempos de Roger Moore, a ação funciona belissimamente apesar da inexperiência do cineasta Michael Apted, cuja carreira como documentarista e autor dramático estranhamente o credenciou para comandar um capítulo da série. A falta de familiaridade com o material não chega a comprometer o resultado das sequências ocasionalmente inventivas, mas sempre divertidas. Não são exatamente originais, pois repetem acertos de outros filmes (pela enésima vez Bond é perseguido na neve, por exemplo), mas oferecem bom entretenimento aos espectadores casuais, com ótimas perseguições e explosões bem filmadas, e aos fãs da série, que podem se deleitar com a utilização de gadgets e de mais um aproveitamento especial do veículo de Bond.

Difícil de questionar, no entanto, é a canção-tema “The World is Not Enough”, apresentada sem grandes expectativas, mas que ganha imensa potência com a banda Garbage, que se beneficia de uma melodia que mescla traços clássicos com acordes modernos além de um vocal que torna o refrão praticamente irresistível. Méritos também para o compositor David Arnold, que investe pesadamente no tema de James Bond composto por John Barry e Monty Norman, compensando a ausência em GoldenEye. Arnold, aliás, caminhava para se consolidar como o sucessor natural de Barry, tornando-se um colaborador frequente da franquia e entregando sempre ótimos trabalhos.

Fazendo referência em seu título ao lema da Família Bond citado em 007 A Serviço Secreto de Sua Majestade, 007 O Mundo Não é o Bastante falha em manter o crescente do qual vinha a série, revelando-se o tipo medíocre de blockbuster que costuma se proliferar nos verões hollywoodianos, mas suficientemente inofensivo para manter o espectador na espera pelo prometido retorno de James Bond, agora em 007 Um Novo Dia Para Morrer.


NOTA 5,5

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